Um dia
ofereceram-me um livro com uma dedicatória que dizia. “Disseste-me que querias
ter uma casa cheia de livros. Aqui tens uma pequena ajuda para começares a tua
biblioteca.” Coincidência, ou não, lembro-me bem da história e do livro. Devo
ter lido a contracapa do “Cemitério de Pianos” de José Luís Peixoto várias
vezes. Além disso, estamos a falar de um dos meus escritores favoritos que
depois disso já tive o prazer de entrevistar. Não tive foi coragem de lhe
contar esta minha história.
Tudo isto
para dizer que enquanto não posso ter a minha casa cheia de livros, e não são
as teimosas alergias que me vão impedir, há outras opções que me podem fazer
continuar a sonhar com isso. O The Literary Man é o hotel com mais livros do
mundo. É em Óbidos e merece a visita de qualquer pessoa que goste de ler.
Já não me
lembro de quantos livros me disse o proprietário que tinham no momento,
provavelmente por estar tão impressionada com as estantes cheias até ao tecto.
Talvez cerca de 50000, mas certo é que o objetivo era até ao final do ano
duplicarem o número. E claro que não resisti a fazer uma pergunta óbvia. No
meio de tantos tesouros, não têm medo que alguém vos roube algum? E Telmo Faria
respondeu como eu merecia: “Perguntam-me muitas vezes isso e eu respondo sempre
que, se levarem algum livro, o pior que pode acontecer é alguém lê-lo.”
Entrando
pelo antigo convento que agora é um hotel, temos à esquerda um espaço para os apaixonados
pela cozinha. A balança não engana. À direita, outros ingredientes apimentam os
amantes de boas histórias, com banda desenhada à mistura. Já na sala principal,
dois sofás grandes convidam a um bom serão à lareira nos dias frios que podem
ser ainda mais quentes com o bar de gin aberto até à meia-noite. Os cocktails
são, também eles, obras literárias como a Lolita ou o Moby Dick.
A minha avó dizia, quando ainda sabia o que dizer, que lhe costumavam chamar a “papa-livros”. E eu gosto de pensar que tenho a quem sair. Adoro ler. Infelizmente tenho tido pouco tempo e, confesso, falta de paciência para o fazer. Mas este foi também um fim-de-semana com um lembrete para voltar aos good old days.
E se
pensávamos que saindo do hotel, perdíamos a literatura de vista estávamos bem
enganados. Óbidos continua com a ginjinha, mas as personagens principais da cidade
medieval são hoje outras e toda a gente parece estar empenhada nesse sentido.
Senão veja-se, há um mercado biológico que também é uma livraria, uma igreja
que agora se chama livraria Santiago e até uma adega onde a literatura é o fim
de boca preferido. Óbidos virou a página e espera que também vocês vão até lá
escrever o vosso capítulo. E, ora pois, que sejam felizes para sempre.